Dia 4: SPOILERS, NÃO CLIQUE AQUI SE VOCÊ TEM JUÍZO

Assunto do dia, né. Das vantagens de saber o que vai acontecer em cada episódio: eu já fico esperando as reações maravilhosas. Como não assisto junto com todo mundo, fico com a minha pipoca acompanhando o Twitter e o Facebook esperando os surtos. Aliás, pra quem se lembra das reações ao Red Wedding, clique aqui para ver todo mundo se sentir vingado. Everybody hates Joffrey Baratheon. (Mentira, tem um cara ali que fica puto. Mas dá pra dizer que 99% comemorou como se fosse a Copa do Mundo.)

Se você não tá nem aí pra spoiler (ATENÇÃO, SÃO MUITOS, MUITOS SPOILERS MESMO!), clique aqui para ler inúmeras teorias da conspiração que, como sempre, fazem todo o sentido e vão explodir seu cérebro.

Sério, o povo é tão criativo que eu quero só ver como é que o Martin vai fazer pra driblar todo mundo e conseguir surpreender.

Joffrey BaratheonR.I.P. Justin Bieber. Sansa Stark mandou abraços.

O gosto agridoce da Irmandade

Eu estou chegando atrasada na conversa. Não entendi direito por que estavam falando tanto de sororidade nos últimos dias, e a bem da verdade ainda estou me situando. Mas li alguns bons textos sobre o assunto e achei por bem dar o meu pitaco.

Eu me encontro em diversos pontos do espectro dos debates. Primeiro, porque sou moça branca cisgênera não deficiente de classe média, o que por si só já me confere um privilégio inegável sobre outras mulheres. E, como tal, embora eu tivesse passado toda a minha vida tentando me livrar dessas barreiras de cor, identidade e classe, eu posso muito bem ter feito – e provavelmente fiz, visto que sou passível de erros -, sim, discriminações, porque não é preciso estar consciente do seu preconceito para realizá-lo. Muitas vezes nós apenas nos desligamos das alternativas, não nos damos conta do que é diferente, simplesmente porque estamos sempre egoisticamente focadas no default, e causamos um desconforto não por malícia, mas por negligência. Negligenciar também é discriminar.

Apesar disso, eu também tenho em mim características de minoria. Como ser bissexual. Já falei e reafirmei aqui sobre bifobia, por exemplo. Que pra muita gente parece absurdo e forçação de barra, mas eu continuo jurando que não é. Existe discriminação, sim, tanto hétero quanto homossexual quanto a quem não está ‘nas pontas’. Mas este não é o ponto. Era só um exemplo para dizer que eu não estou de todo no grupo que retém o privilégio. Minha sexualidade, minhas crenças, meu físico, meu conceito particular de sororidade me arrastam em parte para fora.

Eu gosto muito desse termo. Sororidade. Sisterhood. É maravilhoso pensar em um grupo de mulheres que se apoiam. No entanto, eu fui muito ingênua, admito, em pensar que todo feminismo é receptivo. E isso mostra muito como o meu privilégio me cega. Eu mesma já sofri retaliações por não ser ‘adequadamente feminista’, e cá estou eu surda ao preconceito que outras pessoas sofrem dentro do próprio movimento. No meu mundinho bonito de gente tranquila, todo mundo é legal e inclusivo. De novo, porque eu sou branca, de classe média, estudei em uma boa universidade, convivo com a ‘elite intelectual’ (who?) e não preciso me bater diariamente com preconceitos absurdos. Até os preconceitos que eu sofro são ‘privilegiados’, porque estão em foco no momento e não me botam pra apanhar na rua.

E me dói, sim, ver a gente se batendo dentro da tal sororidade. Eu preferiria mesmo que o fato de ser mulher, de saber o que é discriminação, ainda que você seja discriminada por um fator só enquanto sua companheira é discriminada por dez, trouxesse automaticamente o bom-senso de nos apoiar.

E é aí que entra o entendimento mútuo. Um lado entende que não é preciso nascer mulher pra ser mulher e que ser pobre é diferente de ser rica, e o outro entende que é natural a gente pender a uma questão ou outra. O fato de eu ter uma tendência maior a me envolver com movimentos referentes à atuação física feminina ou ao movimento gay e transgênero não exclui o meu apoio às questões negras, de classe ou de deficientes. E deveria ser só isso. Você faz o que sabe e eu faço o que eu sei, e a gente vai juntando essas pecinhas e montando um todo melhor. Esse é o meu conceito de sororidade. E é por isso que me aborrece ver esse boxe desnecessário. As críticas têm que ser feitas E aceitas por todos os ramos. (Isso no meu mundo de arco-íris e unicórnios, é claro, porque humano é humano e nada é assim preto no branco.)

Apesar disso, infelizmente, a situação não me espanta. Não é de hoje que eu vejo esse sentimento de correr para salvar a própria pele e apoiar somente o que é conveniente. A real é que, antes de lidarmos com feminismos, nós temos que lidar com humanidades, e isso passa por entender que lutar por ou contra alguma coisa é nada mais, nada menos do que uma projeção dos nossos medos e fantasias individuais. É uma certa ilusão acreditar que um conceito A abarca outro B, porque sempre haverá dissidência – e ela não é necessariamente ruim. Por uma questão fonética, the F word nunca será the T ou the L ou the B word. É preciso juntar o alfabeto.

– Os dois textos mais sensatos que eu li sobre o assunto: “A sororidade que não transa críticas“, da Srta. Bia; e “Sororidade 101: sobre feministas brancas, cisgêneras e classe média“.

115

Já estou marcando território novo. Roommies novos, quarto novo, menos quatro horas de ônibus diário. Agora eu vou trabalhar a pé e chegar em casa cedo. E quando alguém quiser sair, é só tocar a minha campainha, porque os bons lugares estão todos em volta.

Estou no paraíso.

26 anos, 7 meses e 8 dias

Eu estou tão cansada de dizer que estou cansada… Estou muito, muito, muito cansada da forma como as coisas são feitas nesse lugar, da homofobia, do preconceito, dos ‘diretos humanos para humanos direitos’, do capitalismo selvagem, da imposição da fé.

Eu queria viver em modo berserk, só esbofeteando os escrotos que acham que têm o direito de sair por aí causando na vida alheia. Mas a verdade é que eu não sei, eu não posso, eu não consigo. A verdade é que eu só queria viver num mundinho cor de rosa onde todo mundo é legal e amigo e respeita todo o resto que não é ele mesmo.

Eu costumava ter essa fantasia enquanto eu crescia. Como sempre fui chegada em culturas diversas, sempre imaginei um lugar em que todo mundo convivia em paz. Não pelo ‘conviver em paz’, porque isso era um non-issue pra mim, nem conseguia imaginar nada diferente. Todo mundo convivia no sentido de aprender e admirar a diferença alheia. Muçulmano com judeu com chinês com branquelo com zulu com charrua com mulheres-girafa. E agora eu tenho a vergonha de admitir que isso é a coisa mais ingênua que eu já imaginei na vida.

Eu estou cansada de estar cansada, estou cansada de chorar todos os dias por comentários cruéis de reportagens do G1, de gente que gosta de ser ignorante. Estou cansada de dizer que estou cansada. Mas, infelizmente, é só assim que eu consigo continuar. Quando eu paro pra fazer um mimimi e alguém me sussurra que eu tenho que seguir, que ainda tem muito a ser feito.

Eu quero parar, lavar as mãos. Mas ainda tem muito a ser feito. Tenho que continuar. Tenho que continuar. O meu mantra atual.

Ma foi est mon combat.

Pitacando ‘The Legend’

Eu ia só fazer um comentário rápido a respeito da série no Facebook, mas acabou ficando tão grande que faz mais sentido eu parar de economizar nas palavras e vir escrever direito por aqui.

Hoje eu finalmente terminei de ver ‘The Legend’. Achei o musical do Zuka tão bacana que me senti meio que obrigada a ver. E é de fato divertido.

Mas algumas coisas podem acabar desencorajando ocidentais, tão acostumados às maravilhas que o cinema hollywoodiano pode proporcionar, a assistir. Os efeitos especiais, por exemplo. Highlander II e seu céu laranja mandaram abraços, e agradeceram terem sido roubados do título de ‘Piores Efeitos da História’.

A maquiagem, então, nem se fala. Da peruca branca do Lord Hwanwoog à velhice do Hwachun, passando pela tatuagem de henna na testa que ele recebeu no final, é tudo um grande facepalm. Eu quase chorei quando vi os dentes do Heuk Gae. Era pra parecer que ele tinha perdido alguns pela velhice, então mandaram tinta preta. Só do lado de fora. Cada vez que ele abria a boca, dava pra ver os dentes brancos do lado de dentro.

Algumas atuações também são canastríssimas, ao ponto da exaustão. Em especial à do Hwachun, que tem que dar aquela olhadinha abaixada o tempo todo e andar com mãos de garra, e a da Ki Ha, que, bem, por si só já é um por-re de pessoa.

Por fim, dá uma desvalorizada o fato de a série ter 24 episódios. É demais. Cada episódio tem pelo menos uma hora. Vinte quatro horas ficou demais, encheção de linguiça. É Ki Ha demais pro meu gosto.

Quem me vê falando tudo isso até pensa que eu detestei, né, mas não. Também tem pontos fortes, por exemplo:

Hummmmm… Er, caham! Bom, não dá pra negar que Bar Yong Jun é um ponto forte, fortíssimo, mas não era bem disso que eu tava falando. (Mas se você quer outro argumento no nível, clica aqui pra ver o Yoon Tae Young.)

Como eu estava dizendo, a história entretém, ainda que se arraste em alguns pontos. Pra quem gosta de fantasia, não tem como errar. E me agrada mais ainda ser uma história baseada numa lenda real coreana. Essa pitada folk me atrai.

Por fim, na mesma medida em que existem atores ruins, também dá pra se divertir um bocado com alguns deles. Call me stupid, mas eu sempre ri demais da relação Hyeonko/Sujini, assim como Damdeok/Jumuchi.

Enfim, vale a pena. Mesmo que você seja uma anta em história e cultura coreanas, como eu. (Sim, esse texto vai terminar de qualquer jeito, porque eu tô com sono e sem a menor intenção de pensar em final bonitinho. Assistam e pronto.)